Se janeiro foi um mês de testes para mim, fevereiro veio como um furacão e tirou tudo do lugar. Vi muita gente comentando o quanto os dias parecem cada vez mais difíceis e desesperançosos e de fato foi assim que passei as últimas semanas.
No começo do mês eu estava inspirada! Meu guilty pleasure (peço desculpas por usar termos estrangeiros aqui) é assistir vlogs de artistas e ilustradores no youtube. Logo no começo de fevereiro descobri o canal da Radhia Rahman. Ela faz vídeos longos que eram perfeitos pra ter ao fundo enquanto eu trabalhava. Foi assistindo um dos vídeos sobre sketchbooks antigos dela que eu decidi que precisava achar um caderno que eu gostasse e sentisse vontade de desenhar no papel mais uma vez.
Anos atrás eu usava uns cadernos de capa dura e lombada quadrada da Hahnemühle porque o papel era grosso para aguentar estudos com tinta mas tinha uma textura suave que eu gostava pra lápis também. Com esse modelos em mente, achei uma versão de "travel journal" tamanho A5 e gramatura 140g/m. Também comprei um estojo pequeno de lápis de cor para finalmente aposentar meus velhos lápis que tem quase a minha idade rs.
Essa foi uma duplinha de rabiscos que me deixou muito saudosa porque era exatamente assim que eu usava meus cadernos antigos. Escrevia coisas junto de rabisco, as vezes lembretes mentais (como no caso, chamar encanador - que eu ainda não fiz).
Aqui também dá pra ver dois exemplos que eu desenhei na hora da emoção sem referências, e depois me usando de referência com a câmera do celular.
Já aqui na esquerda, fiz um teste pra sentir mais uma vez como é pintar com lápis que tem pigmento de verdade hahaha.
O rascunho da direita, surgiu num momento de muita insegurança. Por diversas razões (das quais não é interessante pra nenhum de vocês), eu tenho um apego e relação intensa com cabelos, e em um momento de frustração eu achei que meu cabelo estava me segurando, que eu precisava me livrar dele. Eu ainda quero fazer de verdade esse desenho, e mudar a pose da mulher, mas já não acho que o sentimento que originou esse rascunho tenha peso ou mereça tal importância.
Uns dias depois li uma entrevista com a artista Amber Day ou @Visbii na Creative Review. Eu fiquei encantada pelo trabalho dela, pelos jogos de proporções e texturas. Passei uns dias pensando em duas coisas que ela disse. A primeira, que ela diz no final do texto é que essa é a primeira vez que ela está deixando o trabalho determinar ou guiar o futuro dela e que felicidade vem com espontaneidade. Por mais controverso que isso é pra mim, confesso que nesse momento me encontro fazendo a mesma coisa, com a diferença que ser espontâneo e deixar o trabalho guiar me vida me causam profunda inquietação e melancolia. Isso me intriga e me faz pensar se existe outra forma de encarar meus próprios sentimentos.
A segunda, foi sobre ter percebido que o jeito que ela desenhava pessoas mudou durante a pandemia, sendo um reflexo de como ela sentia que as pessoas estavam se comportando durante esse momento. Ela diz “[...] Almost like pandemic Darwinism, our hands had grown larger so we could grab more supplies for ourselves, and our brains smaller the more time we spent watching the news and putting critical thinking to the wayside [...]".
O que eu achei mais curioso sobre isso, é que eu me sinto o completo oposto. Minha mente não para um segundo e as vezes sinto que ela vai explodir junto do meu coração. Eu pediria desculpas por ser tão dramática se não fosse a atual situação, mas honestamente eu já não me importo.
Foi com isso na cabeça que eu rascunhei meu próximo bordado:
Não tenho ideia de quando eu vou conseguir ter tempo pra fazer, mas teve algo libertador em desenhar algo tão emocional e desprendido como esse.
Na mesma linha do emocional, e ainda pensando em o quanto eu estou encarando meu corpo e como o isolamento me fez "ligar menos" para a minha aparência diária, quase num vômito de emoção eu fiz essa mulher "selvagem" com seus seios caídos pra fora pronta pra derrotar qualquer coisa. Pelo menos foi assim que eu senti.
É, eu diria que fevereiro foi um mês de emoção. Mais emoção do qualquer outra coisa. Trabalhei demais também, mas são coisas que não posso compartilhar no momento. Espero que março eu possa aprender a lidar com o espontâneo sem colocar meu coração em risco.
Se cuidem, usem máscara, e fora Bolsonaro!
Méuri, to adorando acompanhar esse formato de publicação — é inspirador! ✨
Senti que fevereiro foi um mês de colapsos emocionais para muitas pessoas ao meu redor, eu inclusa.
*Peço licença para uma digressão aqui: ao meu ver, faz sentido esse tipo de conflito entre ação x emoção nessa época do ano — para além da situação em que vivemos hoje —, pois saímos do janeiro pragmático, planejado, organizado influenciado por Capricórnio/Aquário e caímos de cabeça nas reflexões coletivas e emocionais de Aquário/Peixes em fevereiro. E digo mais, remamos em uma direção passional para iniciar a temporada de Áries em muito breve. 🔥
Na minha escrita quase-que-diária, tento enxergar para além do dia que estou e tenho dividido os meses mentalmente em 3 partes. Também tento analisar meu mês dentro de um período de 3 meses. Parece que é o máximo de tempo que consigo vislumbar à frente, sabe?*
Achei muito interessante a reflexão sobre como o isolamento mudou as noções de relacionamentos, referências interpessoais e desenhos dos corpos humanos. Parece uma tendência (não identifico de onde), né? Desenhar a cabeça cada vez menor e as extremidades cada vez maiores...
Por último: saudade de dividir cadernos com você. Obrigada pela gentileza de compartilhar digitalmente conosco esses estudos.
🤍