Passei o último mês numa tentativa de descanso um pouco fracassada. Eu li, dormi, vi amigos e família mas foi difícil desligar a cabeça. Me retirar mentalmente desse momento de incertezas, de expectativas e desejos.
Sigo ainda há semanas rascunhando planos pra esse ano, vontades e ideias mas sem de fato conseguir criar “metas” ou objetivos bem claros. A estrutura que eu sinto falta e que me traria pro chão.
Depois de alguns anos desde o lançamento, eu decidi finalmente ler o livro “How to Do Nothing: Resisting the Attention Economy” de Jenny Odell, e meu deus, como ele veio em boa hora!
Esse livro estava na minha lista desde 2019, lançado bem no começo da minha inquietação e questionamentos das redes sociais. Eu sabia que iria gostar dele. Mas parecia ser o tipo de leitura que merecia um momento diferente pra ler, e foi agora.
Foi lendo esse livro que fui percebendo minha angustia com as redes sociais (a economia da atenção), a falta de motivação e prazer que tenho sentido com o meu trabalho talvez esteja vinculada pela falta de contexto que se tornou natural em ambos. Jenny Odell explica um pouco sobre como a falta de contexto nas redes com Twitter e Facebook acabam deixando tudo tão raso e as vezes “desinteressante”.
No meu último trabalho, quase não havia tempo pra pesquisa, passar um tempo “estudando” o projeto, os temas, os clientes. Essa etapa não passava muito por mim, as coisas vinham prontas e eu executava. Isso gerou uma situação onde eu criava quase sem contexto, peças genéricas e rasas mas que eram exatamente o que os briefings pediam.
Nem quero entrar na discussão se isso é ruim ou bom, porque uma parte de mim sabe que eu ganhei muita experiência técnica. O que eu não esperava era sentir tanta falta da parte mental, racional, experimental dos projetos. Da pesquisa, de entender e buscar mais informações e ir projetando conforme eu absorvo essas informações e crio uma outra coisa.
Quando Jenny Odell fala sobre essa falta de contexto, eu entendi melhor a possível raiz da minha frustração.
Pensei muito também sobre o impacto da pandemia nessa frustração e a ligação desses trabalhos que pouco pediam contextualização ou uma curiosidade em aprofundar o que já me era dado. Em um momento onde toda a minha vida acontecia em casa, em 3 ou 4 cômodos e com poucas pessoas; uma bolha de vida onde muitas vezes parecia ser descolada do meu entorno. Pouco importava onde no mundo eu estava, a minha vida passou a ter pouco mais de 800m.
Acho muito interessante a resposta que Jenny Odell dá para a economia da atenção, voltar o olhar e a percepção ao nosso entorno, ao bio-regionalismo, aos pássaros e tudo que faz esse ecossistema.
Durante os anos de quarentena que eu segui rigidamente, eu tinha ânsia pelo verde, pelas árvores, pelo campo, pelo fim da cidade! Poder encontrar meus amigos de novo me fez perceber que a minha vontade de continuar isolada era um sintoma, de algo que eu ainda estava por entender.
Esse livro (que eu ainda não terminei pois estou lendo devagar) tem me tocado profundamente! É ainda mais interessante de pensar que eu tinha outras expectativas sobre ele, talvez porque eu esteja vivendo um momento nublado, eu queria respostas; mas o que esse livro me deu foi a vontade de seguir curiosa sobre o que existe além de mim.
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Fiquem bem, se cuidem e nos vemos em algumas semanas!